Quaresma e Quarentena

Inauguramos a seção com as palavras QUARESMA e QUARENTENA.

A Quaresma é uma palavra originária do latim quadragésima, período de quarenta dias, da Quarta-feira de Cinza até o Domingo de Ramos, o domingo que antecede a Páscoa. Para os católicos, representa um período para se cumprirem certos preceitos, como jejum e penitências. No dia seguinte ao feriado de Carnaval, os católicos recebem um pouco de cinzas sobre a sua cabeça, cinzas estas obtidas da queima dos ramos utilizados no Domingo de Ramos do ano anterior. Nas cerimônias de antigamente, o padre dizia a cada um uma frase em referência à morte: Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris: “Lembra-te, homem, que és pó e ao pó retornarás”. A Quaresma é o tempo da espera, da preparação, da reflexão.

Simbolicamente, o número quarenta marca a realização de um ciclo especial, aquele que promove a passagem para um outro estágio de ação e de vida. Curiosamente, Buda e os Profetas começaram sua pregação aos 40 anos. Os 40 dias da Quaresma preparam para a ressurreição pascal. Entre os africanos e em vários povos, os funerais duram 40 noites. É o número de dias para os restos mortais serem desembaraçados de qualquer corpo vivo. Ele marca o fim da quarentena, assim como o fim do resguardo. Entre os altaicos, é a partir dos quarenta dias da morte que a viúva pode pronunciar a fórmula ritual: Agora, eu te abandono, o que a liberta para um novo casamento.

O costume da quarentena provém dessa crença de purificação, pois o número quarenta simboliza um ciclo de vida e não vida. Atualmente, temos ouvido esta palavra, em função dos casos suspeitos de contrair o novo coronavírus. Ficar de quarentena passou a significar, ficar em isolamento. No mundo da Administração, quarentena significa o período subsequente à ocupação de um cargo público estratégico ou mesmo de um cargo importante em uma empresa privada em que o ex-detentor do cargo fica impedido de empregar-se em outro cargo onde possa se valer de informações privilegiadas em benefício próprio ou de outrem. Nesses casos, o período de quarentena já não representa um tempo de 40 dias. Pode ser mais quanto um ministro deixa o governo e pode ser menos como no caso do coronavírus.

Isolados ou não em função da suspeita de um vírus contagioso, usemos os 40 dias da quaresma-quarentena, para nos preparar para morrer. Dizia Montaigne: “Quem ensinasse os homens a morrer os ensinaria a viver”. Porque somos pó e ao pó vamos todos voltar.