O Momento da Palavra de hoje é também a Palavra do Momento: ISOLAMENTO
Deixando de lado o sufixo -“mento”, a palavra chave é isolar. Sua origem nos remete ao verbo francês “isoler” e seu adjetivo “isolê”. Segundo Marco Neves, professor da Universidade Nova de Lisboa, “isole” teria vindo do italiano “isolato”, que é particípio passado de “isolare”, que se origina da palavra “isola”, que significa “ilha” e vem do latim “insula”. Em espanhol, isolamento é “aislamiento” e ilha é “isla”, tornando ainda mais evidente a relação entre ilha e isolamento.
A ilha é um pedaço de terra contido pelo mar. Em volta dela, só existe água, não há ligação. O isolamento social recomendado pelas autoridades de saúde pode fazer as pessoas sentirem-se ilhadas, sem ligação. Por isso, ele dói. Seres sociais que somos, o “ilhamento” social contradiz a ideia de que ninguém é uma ilha.
Mesmo ilhado em sua casa, não é preciso você se isolar do mundo, nem de todo mundo. Computadores, celulares e telefones nos permitem conectar com as pessoas e fazer as ligações tão necessárias ao ser humano, carente que é de re-ligar-se para não se sentir só. O WhatsApp possibilita o envio de mensagens, e um recurso ainda mais espetacular e pouco utilizado, a chamada de vídeo, permite falar, ouvir, ver e ser visto. E matar saudades!
Enfim, mesmo ilhado, não é preciso ficar isolado, é possível estar conectado. Aliás, con-nectare significa “ligar-se com”. Conecte-se! Faça ligações! Chame! Atenda! Fale, escute, converse! Se liga!
Triste é perceber que um presidente, mesmo dispondo de tantas possibilidades de ligação com cientistas e especialistas, despreza o isolamento social como recomendação de saúde neste momento de crise e prefere o isolamento político como consequência de sua incapacidade de ouvir.
Fique ilhado em sua casa, mas não se isole do mundo e de todo mundo. O presidente, pasmem, prefere não ficar ilhado em sua casa e se isolar do mundo. De todo mundo. E do mundo todo.