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Sustentabilidade e o Curioso Caso de Nosso Envelhecimento

Photo by Dominik Lange on Unsplash

O Curioso Caso de Benjamin Button é um livro de 1922, escrito por Francis Scott Fitzgerald, que virou filme em 2008. Ele conta a história de um menino que nasceu com aparência de velho, rejuvenesceu a vida inteira e morreu bebê. Seu caso é um extraordinário exemplo de como a ficção pode nos fazer refletir sobre a compaixão, o preconceito, a amizade, o drama do incesto e a fragilidade da vida. O fio condutor do livro que virou filme é o tempo. O autor inverte a sua lógica, mas ele se mantém inexorável. Benjamin Button nasceu, viveu e morreu. Como todo ser humano.
Tão curioso quanto ter nascido velho e morrido como um recém-nascido, é a velocidade do nosso envelhecimento. Nós envelhecemos mais depressa do que nossos pais. Meu pai, por exemplo, quando nasci, tinha 40 anos. Quando completei um ano de vida, ele tinha 41 vezes a minha idade. Quando fiz 5 anos, papai tinha 45: nove vezes mais! No meu décimo aniversário, nossa diferença de idade se reduziu a apenas 5 vezes. Quando completei duas décadas, meu pai comemorou seis, três vezes mais! Na festa dos meus 40 anos, meu pai tinha apenas o dobro de minha idade. Hoje, nem isso: ele completa 90 enquanto eu faço 50. Ele já não tem sequer o dobro da minha idade. E eu tenho a nítida sensação de que o estou alcançando… É como se os anos da minha juventude passassem rápido demais, enquanto os anos da sua maturidade corressem mais lentamente. É curioso!
Essa irregularidade na velocidade de nosso envelhecimento explica o conselho de quem é avô, sempre a recomendar curtir os filhos enquanto são crianças, pois eles crescem rápido demais. E explica também por que as diferenças entre pais e filhos vão desaparecendo na medida em que ambos envelhecem. Também nos permite compreender por que o velho já não tem pressa, capaz que é de viver a eternidade na temporalidade. Já não fala tanto, participa. Já não briga, adverte. Já não sofre, aceita.
O inusitado do caso de Benjamin Button dependeu da criatividade de um autor inspirado. Já a velocidade com que estamos “diminuindo” a nossa diferença de idade em relação a nossos pais depende apenas da observação atenta de um fenômeno tomando um parâmetro matemático como ponto de referência. É dessa atenção que precisamos para pensar o tempo no longo prazo. Se tomarmos nossos pais como referência para pensar o tempo, conseguiremos pensar na vida, no planeta, nas pessoas, de modo sustentável. Antes de pensar nas novas gerações, é preciso pensar nas gerações ascendentes. Provavelmente, vamos envelhecer com os nossos pais. Na próxima geração, seremos velhos juntos com os nossos pais. E vamos colher o mundo que semeamos no decorrer da vida. Somente reverenciando nossa origem é possível pensar nas futuras gerações.
É curioso que para falar de sustentabilidade, um tema tão moderno, tenhamos lembrado de um mandamento tão antigo: honrar pai e mãe. Clara demonstração de que verdades não envelhecem.

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